22 agosto 2006

Não somos avivados


Carlos Alberto Bornhofen

Já começo pedindo que ninguém se ofenda com o que eu vou escrever. Não estou escrevendo com o propósito de magoar, ferir, acusar ou fazer qualquer mal a qualquer pessoa. Na verdade estou escrevendo com um coração profundamente em dor, mas faço isso com a vontade que as coisas mudem, e mudem logo.
Hoje quando estava orando eu pensei em escrever estas coisas, e tenho esperança quando escrevo, eu realmente creio que as coisas podem mudar.

Eu tenho ouvido falar muito em avivamento, e creio que não sou o único. Fala-se que o avivamento está chegando, outros falam que já chegou, outros falam que começou mas não está pleno e outros falam que estamos em processo de avivamento.
Não acredito em nada disso.

Creio que a única coisa que temos de avivamento é que muitos de nós realmente o querem. Só isso e nada mais, mas eu pretendo explicar esta afirmação.

Pensem bem, o que é, afinal de contas, o tal do avivamento?
Já ouvi dizer que é viver a Palavra de Deus, e se for isso estamos todos ferrados, porque todos nós pecamos e nenhum ser humano consegue realmente viver a Palavra de Deus. Nós tentamos, tentamos, tentamos e em algum lugar acabamos tropeçando. Aí choramos, nos arrependemos e seguimos em frente grudados com Jesus, mas em algum outro momento acabamos dando mancada outra vez. Se alguém duvida disso, pergunto: quem já consegue cumprir a ordem de Jesus à pecadora perdoada em João 8.11, ou a mesma ordem dada ao homem curado em João 5.14? A ordem é "não peques mais!". Conseguiu? Nem eu, nem ninguém de quem eu tenha ouvido falar. Então avivamento não deve ser isso. Isso é o céu, mas é bom que queiramos isso, não pecar mais e viver a Palavra de Deus, mas não sejamos arrogantes, nós simplesmente não conseguimos e a única razão pela qual não somos imediatamente consumidos é a maravilhosa misericórdia de Deus (Lm 3:22).

Próximo!

Bom, também já me disseram que o avivamento é uma alegria maravilhosa, a abundância dos dons do Espírito Santo e uma igreja que é uma prévia do céu, uma alegria só. Se for isso, também temos um problema, porque é bem válido para a nossa geração aquelas coisas terríveis que Jesus disse para as cidades impenitentes: "Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido" (Lc10.13). Ou vai dizer que não? Pense bem, quantos milagres maravilhosos Jesus já fez na presente geração, ou melhor, desde o avivamento pentencostal da rua Azusa em 1906? Milagres aos montes, curas, paralíticos levantando, cancerosos curados, portadores de HIV restaurados completamente, coisas impossíveis acontecendo, unção e mais unção na cabeça dos servos de Deus, de um modo tal que só aquela geração dos apóstolos viu algo maior.

Se os católicos da inquisição medieval tivessem visto e vivido o que vemos e vivemos, se converteriam e exortariam os protestantes a buscar mais a santidade.

Nós recebemos tudo isso em dons espirituais e unção. E o resultado?
O resultado é de dar dó. Temos igrejas cheias de gente mentirosa, que diz uma coisa na igreja e vive outra lá na rua, temos pecadores que vivem trinta ou quarenta anos dentro das igrejas e não largam seus pecadinhos de estimação, que de tão velhos e alimentados já não são mais um totó, mas são um gigantesco gorila de vinte metros que se alimenta vorazmente da pecaminosidade desses infelizes.

Temos adultérios entre cristãos, gente curada que cai fora da igreja porque agora tá novinho e pode "viver a vida", como dizem alguns. Temos igrejas muitíssimo preocupadas com suas tradições, seus maravilhosos hinários, sua história e a pintura nova da sede, mas que nem esquentam a cabeça com a porcariada que tá lá debaixo do tapete. O tapete já tá tão alto que tem gente "subindo o monte" dentro da igreja, só na montanha de lixo espiritual que a igreja acumula.
Se avivamento for abundância de dons espirituais, estamos ferrados e vamos ser cobrados por Deus de um jeito que nenhuma outra geração vai ser cobrada, porque temos recursos que nenhuma outra geração teve e as coisas não estão mudando.

Eu acho que eu poderia escrever umas vinte páginas sobre o que dizem do avivamento e que não é avivamento, mas eu acho que dá para encerrar por aqui e escrever um pouquinho sobre aquilo que a bíblia fala de avivamento, aquilo que ainda não chegou mas que esperamos e oramos para que chegue. Pelo menos eu oro para que o avivamento chegue, e espero que você também ore.

Avivamento deve ser o contrário de morrer espiritualmente, e esse morrer é resultado do pecado, já que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). A primeira vez que a palavra pecado aparece na bíblia é em Gn 4.7, onde Deus está falando com Caim. Na mesma conversa, uma frase antes, no mesmo versículo, Deus diz: "Se bem fizeres, não é certo que serás aceito?". Acho que não estamos fazendo bem, porque temos sido muito bem aceitos pelo mundo, isso sim. Essa paz entre a igreja e o mundo me preocupa, parece coisa da igreja de Sardes (Ap 3.1-6)

Em II Reis, capítulos 22 e 23, lemos que o rei Josias leu o livro da Lei do Senhor, pela primeira vez em sua vida e provavelmente pela primeira vez naquela geração. O resultado foi um desespero por causa dos próprios pecados, um arrependimento profundo e mudança de vida. O país mudou, o pecado que era abundante dentro de toda a nação foi abominado. Nos versículos 22 a 24 aprendemos que celebrou-se a Páscoa como não se celebrava desde o tempo dos juízes, séculos antes, e que as abominações foram tiradas do meio de Israel. Como anda a nossa adoração, os nossos altares. Como andam as abominações que estão no meio do povo do Senhor?

Em Isaías 6 lemos que o profeta viu o Senhor, e entrou em desespero, porque era homem de lábios impuros que viva no meio de um povo de impuros lábios, e viu o Rei. Antes disso Isaías servia como profeta de Deus clamando "ai de vós", mas agora dizia "ai de mim". Às vezes vejo igrejas anunciando o inferno aos outros, mas estão cheios de fofocas e palavras que são impróprias aos servos de Deus. "Ai de vós" é a expressão de muitos dos "avivados" do momento.

Habacuque disse a Deus: "Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia." (Hc3.2).
Estamos precisando de mais temor, daquele temor qua aparece pela primeira vez no novo testanto logo após a morte de Jesus, o temor que tomou conta do Centurião e daqueles que com ele guardavam Jesus, logo após o terremoto e as coisas que eles viram. Sabe o que aquele incrédulo invasor e opressor romano disse, cheio de temor? "Verdadeiramente este era Filho de Deus" (Mt 27:54). Precisamos daquele temor da igreja primitiva, onde em toda a alma havia temor (At 2.43), temor como aquele que estava sobre a igreja quando morreram Ananias e Safira por mentirem ao Espírito Santo, em Atos 5. Será que queremos tal mover de Deus em nossos dias? Quantos de nós talvez cairíamos mortos? Não sei, mas só a idéia já dá um medo...

Precisamos ainda daquele temor que tomará todos os que verem a ressurreição das duas testemunhas de Deus, anteriormente assassinadas pelo anticristo durante a tribulação (Ap 11.11).
Com tal temor, diremos: Aviva, ó Senhor, a tua obra, lembra-te da misericórdia!

Com profundo temor não dá para pedir juízo, pois seremos os primeiros a sermos consumidos, já que a purificação começa pelos mais chegados a Deus (Ez 9). Com produndo temor pediremos avivamento e misericórdia.

Avivamento é aquilo que aconteceu em Jerusalém, onde a turba virou igreja, onde até os sacerdotes do templo vivaram servos de Jesus e obedeciam à fé (At 6.7).

Não sei explicar ao certo o que é avivamento, porque nunca vi um, mas sei que onde ele veio, as coisas mudaram, milhares se converteram, crentes velhos viraram discípulos cheios de vigor, o evangelismo floresceu e as coisas velhas foram deixadas para trás.
Eu ando preocupado com a igreja, com a minha igreja local, a minha denominação, a igreja toda da minha cidade, a igreja que está no meu país, de todas as denominações. Ando preocupado mesmo, e ando preocupado comigo.

Outro dia eu ouvi um servo de Deus dizer algumas coisas que me deixaram revoltado, eu fiquei indignado com ele, mas ele tinha razão. O homem disse que o véu foi rasgado, mas tá todo mundo dançando diante do véu, na maior carnalidade, e ninguém entra para a presença do Senhor. Deus tá lá, só esperando entrar alguém, mas ninguém quer entrar, tá gostoso aqui fora, essa festa toda, "nós temos o avivamento, lá lá lá lá lá lá". Que porcaria!

É verdade, se tivéssemos entrado lá estaríamos mortos, porque ver a glória de Deus dá nisso: morte! Ainda há muita carne dançando diante do véu, muita gente pulando e curtindo as carnes alheias, muita fofoca, muita inveja, muita sede de poder, muita porcaria mesmo. Precisamos entrar lá e morrer. Ué, não quer morrer não, é? E como é que fica aquele papo todo de mortos para o pecado (Rm 6.2 e I Pe 2.24), sepultados com Cristo (Rm 6.4), mortos com Cristo (Cl 2.20 e 3.3)? Melhor é estar morto, "porque aquele que está morto está justificado do pecado" (Rm 6.7).

Ainda tem muita carne viva pulando diante do altar, mas tá na hora do sacrifício vivo restaurar o altar, dispor a lenha, deitar-se calmamente e clamar a Deus que desça fogo! (Rm 12.1 e Lv 9.24). Preciso deixar queimar toda a carne, toda a gordura, e estou aqui para convidar os meus irmãos a fazerem o mesmo.

O dia que nós nos humilharmos, orarmos, buscarmos a face do Senhor e nos convertermos dos nossos maus caminhos, então ele ouvirá dos céus, perdoará nossos pecados e sarará a nossa terra (II Cr 7.14).
Quem acha que tudo está bem, então não se humilhe, mas antes de decidir, dê uma boa olhada ao seu redor.

Eu olho ao meu redor e choro, choro amargamente. Meu país está mergulhado na prostituição, nas drogas, na violência, na mentira, na idolatria. Todos os dias os necrotérios são preenchidos com aqueles que vão para o inferno. O carnaval ainda acontece todos os anos. O país ainda para para ver o futebol mas não para para se arrepender.
Não sei quanto a você, mas minha fé está péssima. Não passa de poeira. Sei que nós temos aquela fé suficiente para sermos salvos, mas a minha não passa muito disso. Se você é um daqueles evangélicos triunfalistas que nunca é derrotado e só vive em vitória, então ore por mim e pelo meu país, para que sejamos transformados. Com tamanha fé você certamente vai sacudir esta nação como fez Elias.

A fé move montanhas.

As montanhas de pecados dos meus parentes não tem sido removidas pela minha fé. Eles ainda não se converteram, nem os meus colegas de trabalho, nem os meus amigos, nem mesmo alguns membros de igrejas que eu conheço. Eu oro, jejuo e evangelizo, mas muitos deles simplesmente não se movem. A montanha está lá, parada, imponente, me desafiando e eu estou aqui, chorando.

Não sei quanto a você, mas eu já orei por doentes que simplesmente não foram curados. Eu sei que Deus é soberano e não se submete à minha vontade, mas sei também que isso é uma boa desculpa para a minha falta de fé. Já ouvi alguns asnos acusarem pessoas doentes de não terem fé, dizendo que aquela doença só permanecia por causa da falta de fé. Essa última parte eu concordo, só que está faltando fé não ao doente, mas a mim, ou alguém acha que o paralítico da porta formosa tinha fé para ser curado? Quem tinha fé era Pedro (At 3.6). Como eu queria ter a fé do tamanho de um grão de mostarda!
Jesus expulsava demônios com sua palavra! E era rápido! (Mt 8.16) E nós clamamos pelo sangue dele uma noite inteirinha e ainda reclamamos que o infeliz do endemoninhado dá legalidade ao diabo, mas a verdade é que nos faltam fé, jejum e oração! (Mt 17.21)
Eu não sei quanto a você, mas eu ainda não vi os pecadores entrando aos montes na igreja, se atirando ao chão e rogando por perdão de Deus, arrependidos de seus pecados. Na verdade eu não tenho visto muito disso nem entre os servos de Deus.

Eu não tenho visto notícias de jornal falando das coisas estranhas que andam acontecendo em igrejinhas da periferia da cidade, coisas como paralíticos andando, doentes terminais curados, mortos levantados em pleno cortejo fúnebre, traficantes fechando bocas de droga, políticos corruptos devolvendo dinheiro e pedindo perdão. Eu não tenho visto nada disso, mas Jesus disse que nós mesmos faríamos coisas maiores do que as que ele fez, mas não temos feito nem mesmo coisas parecidas (Jo 14.12).

Estou envergonhado. Perdoa-me, Pai.

Se há algum avivamento, não é no Brasil. Quando o avivamento chegar, não tenho dúvida que todos nós ficaremos sabendo. Talvez enquanto eu escrevo, ou enquanto você lê, alguma centelha de fogo tenha começado em algum lugar dessa nação, mas eu (e creio que você também) ainda não vi nada disso. Nadinha.

Não quero com estas palavras ofender ninguém, não quero acusar ninguém, porque tudo isto pesa sobre o meu próprio coração, e eu tenho certeza que seu orasse e jejuasse como Deus quer que eu faça, essas palavras tocariam fundo no coração de quem lê e as coisas mudariam. Eu tenho certeza que seu fosse o servo que Jesus quer que eu seja, talvez eu nem mesmo precisasse escrever esta carta.
O que eu posso fazer agora é chorar pelos meus pecados, me arrepender, chorar pela minha falta de fé e me arrepender disso também. Posso também orar e jejuar mais, e pedir que Deus responda com fogo sobre o altar (I Rs 18.24).

Posso também fazer mais uma coisinha: convidar você a chorar também (Tg 4.9).

Este é o meu convite.

Se você detestou tudo isto que eu escrevi e quiser jogar algumas pedras em mim, espere um pouquinho e você provavelmente conseguirá companhia.

Deus abençoe você e sua família, e tenha misericórdia de nós todos.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com o que vc escreveu por isso estou indo orar e pedir misericordia a Deus pela minha vida, familia, igreja, estado e nação, pois quero um verdadeiro avivamento começando na minha vida.

    ResponderExcluir

A única coisa que peço é que ao postar, deixe seu nome e e-mail, IDENTIFICANDO-SE. Muito Obrigado.
Se não se identificar, possivelmente não será publicado.