21 agosto 2006

Uma igreja SEM propósitos?

por: Carlos Sider
http://www.provoice.com.br
Não estou falando de um novo modelo de gestão para sua igreja. Não estou criticando o sistema que nasceu da experiência da Saddleback Church, na California (Pr. Rick Warren), mesmo porque gosto bastante dele, e em nossa igreja até aplicamos muitos de seus conceitos.

Tampouco estou falando das igrejas que não adotam este modelo, e sim outro, como o G12, igreja em células, etc, etc.

Estou falando das igrejas como um todo. Igrejas locais, com endereço, com estatuto, com membros e líderes. Que são, ou deveriam ser, a expressão local da igreja universal de Jesus Cristo.

Tenho tido a oportunidade de visitar várias igrejas, de várias denominações, algumas históricas, outras de história bastante recente. Algumas que crescem, outras que estão do jeito que sempre foram, e outras que vem se arrastando, mantendo a velha programação e esperando que os gloriosos tempos de outrora voltem algum dia, quando faltava lugar pra tanta gente sentar.

Mas, voltemos aos propósitos. Eta palavrinha bem usada recentemente, não? Igrejas com propósitos, vida com propósitos, 40 dias com propósitos, tudo com propósitos...

Agora... pensando na definição bíblica de igreja, dada por Jesus: existe igreja sem propósitos?

Eu creio que a única resposta cabível é não! Jesus estabeleceu a sua igreja, e disse o que ela deveria ser e fazer. Estabeleceu os seus propósitos. Pouco mais tarde, o Espírito Santo, por intermédio de Paulo, Pedro e outros, estabeleceu algumas normas pelas quais estes propósitos deveriam ser alcançados. Portanto, igreja bíblica é igreja com propósitos (mesmo que use o G12, que se divida em células, que siga a árvore do discipulado, que se organize por ministérios, etc, etc, e mesmo que adote o modelo da igreja com propósitos).

Mas se pensarmos no que temos conseguido e observado com nossas igrejas por aí, começo a pensar que existem variações um tanto estranhas. Penso que todas elas continuam a ser igrejas com propósitos, mas convenhamos... tem cada propósito por aí...

Eu o convido a analisar comigo alguns casos e até a pensar em outros, caso você queira. Lamentavelmente a relação é meio que extensa.

A igreja com o propósito de cultuar a tradição - ora, que se danem os perdidos. Ora, que se danem os jovens e os que querem novidades. Nossa igreja sempre foi assim, ainda é assim, e sempre será assim. Foi assim que sempre fizemos, e assim sempre faremos. Pelo menos até que os manda-chuvas morram.

A igreja com o propósito de quebrar paradigmas – temos que modernizar! Temos que achar um novo meio de fazer as coisas! Tudo novo é melhor. Esqueça o que sempre foi feito. O deus dessas igrejas é a quebra da tradição, é o novo modelo. Estão tão atentas em seus novos métodos que se esquecem de pregar o evangelho.

A igreja com o propósito de construir o templo – você já contribuiu? Você já fez seu compromisso de fé? Ora, apresse-se irmão! Temos que comprar os vidros! Temos que isso, temos que aquilo. Temos que construir nosso edifício de educação religiosa. A igreja vira um canteiro de obras, e o edifício passa a ser o “objeto de adoração”.

A igreja com o propósito de vender favores – venha ao nosso culto dos endividados! Venha ao nosso culto da libertação! Venha ao nosso culto da cura e da unção! Venha ao nosso culto disso, culto daquilo. Seja um dos nossos, contribua (claro), e receba com juros e dividendos os favores de Deus. Ah... você já fez tudo isso e o favor não chegou? Falta de fé, irmão...

A igreja com o propósito de mostrar fenômenos – se você vai ao culto de uma dessas igrejas e não sente nem um arrepiozinho, avalie a sua fé, meu caro. O fogo tem que descer. O pau com o capeta tem que quebrar. O inimigo é amarrado. Mas parece que ele acaba se soltando, pra poder ser amarrado de novo no próximo fim se semana.

A igreja com o propósito de triunfar – pensamento positivo, meu velho. Carro importado, sim. Clame por mais faturamento, amigo empresário! Que seus negócios reflitam o poder de Deus! Ah..., é... sei..., mas sabe, esse negócio do apóstolo Paulo dizer que sabe o que é ter fartura e sabe o que é passar necessidade é uma passagem isolada... esse negócio de combater o bom combate, de espinho na carne, é tudo uma visão momentânea...

A igreja com propósito de conviver - é o princípio do monte da transfiguração: "bom estarmos aqui, Senhor! Façamos aqui três tendas!" É a igreja-clubinho dos amigos. Tem um sentimento de família imbatível. Os membros se amam e se dão bem. Tão bem que não querem estragar o ambiente deixando mais gente entrar. Por isso esquecem de pregar.

A igreja com o propósito de discutir teologia - são verdadeiros seminários. Todos os membros sabem tudo de Biblia. Pena que de vez em quando rola uma briga entre os calvinistas e os wesleyanos. Ou entre os pre-milenistas e os pós-milenistas. Brigas entre os doutores da lei. Ensinar Bíblia sempre foi bom, mas há alguns lugares onde o bate-bola teológico foi tão longe que talvez chegue no que Paulo classifica de genealogias intermináveis.

A igreja com propósitos não-declaráveis – pode ser o propósito de comprar uma rede de televisão, de arrecadar dinheiro, de manter o emprego do pastor, de arranjar trabalho para outros obreiros, de montar uma estrutura, de promover alguém na denominação, etc, etc.

Enfim, a questão que fica não é se existe ou não existe igreja sem propósitos. A questão é saber de que propósitos estamos falando.

É óbvio que, filtradas as ironias e um certo humor que existe na descrição dos casos acima, conviver, ensinar, construir, quebrar paradigmas, entre outros, são coisas que precisam passar pela vida de uma igreja sadia e normal. O que não pode ocorrer é que os meios se tornem os fins!

Igreja de Jesus Cristo tem que ter os propósitos de Jesus Cristo. Caso contrário ela é uma confraria, uma associação sem fins-lucrativos, beneficiente, sei lá o que. Pode ter até nome de igreja, mas...

Qual é o propósito da igreja de Jesus? Crescer, fazendo discípulos. Discípulos que são adicionados à família porque lhes é apresentado o real evangelho de Jesus. Discípulos que aprendem a guardar os ensinamentos de Jesus. Discípulos que se multiplicam à imagem de Jesus, conforme Jesus, tendo Jesus como modelo.
Carlos Sider
Engenheiro e Administrador. Cristão há mais de 20 anos. Diretor Geral da Magna Latina, empresa que engloba a Provoice.
É casado com Thelma e tem 3 filhos, Ricardo, Marina e Cristina.

Artigo retirado do site ProVoice www.provoice.com.br

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